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Abcdário Musical

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Camisa de Vênus




*Biografia do Camisa de Vênus

Formada por integrantes que eram rockers de carteirinha, fãs de Rush, Led Zeppelin e Elvis, o Camisa de Venus, uma autêntica banda de rock nacional, surgiu em Salvador no início da década de 80, quando Marcelo Nova e Robério Santana, que trabalhavam juntos numa emissora de rádio e TV Aratu, perceberam uma grande afinidade de idéias.

Só que eles precisavam de mais integrantes, os quais foram selecionados na base de convites. Robério que seria o guitarrista convidou Karl Franz Hummel para tocar baixo que por sua vez convidou Gustavo Adolpho Souza Mullen para assumir o controle da bateria.

A banda ainda não tinha nome quando fizeram as primeiras apresentações, em uma platéia formada apenas por amigos. Como todos que iam a essas apresentações reclamavam do som da banda, dizendo que era barulhento e incômodo, Marcelo Nova decide chama-la de Camisa de Vênus, por considerar a camisinha realmente um grande estorvo.

Com o novo nome, a primeira apresentação foi em 1982 com a participação de um quinto integrante, o guitarrista Eugênio, que participaria de apenas dois shows.

Ainda em 82, Gustavo Mullen que se dizia cansado de ter que montar, desmontar e carregar a bateria, convida Aldo Pereira Machado para toca-la em seu lugar, Gustavo então, assume a posição de Eugênio ficando com a segunda guitarra.

Esta seria a formação que se seguiria por muitos anos da, como eles próprios se denominavam: "A única banda heterossexual do planeta".

Tendo a sonoridade bastante influenciada pelo rock inglês dos anos 70 e também pelas preferências musicais de Marcelo Nova, que eram Little Richards e Chuck Berry, lançaram seu primeiro compacto ainda em 82 com as músicas: "Controle Total" e "Meu Primo Zé", depois do sucesso de uma fita demo que continha a versão da música "Total Control" do The Clash.

No ano seguinte, em 83, já com uma posição definida no cenário musical de Salvador, é lançado o primeiro álbum, auto-intitulado, contendo entre outras a faixa "Bete Morreu".

Alguns meses depois do lançamento, surgem pressões por parte da gravadora que sugeriu que a banda muda-se de nome, argumentando que com o nome de Camisa de Venus ficava difícil fazer uma boa divulgação.

Mesmo com os produtores ameaçando tirar o disco de catálogo e acabar com a banda, Marcelo Nova e seus companheiros não aceitaram, porque acharam que se dessem liberdade pra gravadora manipular o nome, mais tarde manipulariam a sonoridade e as letras.

O contrato é rompido e eles passam a fazer somente trabalho de palco. Só iriam entrar em estúdio novamente em 1984, para a gravação do segundo disco "Batalhões de Estranhos", que contava com uma sonoridade melhor e mais trabalhada resultado dos dois anos de experiência. Deste disco o maior hit da banda, "Eu não matei Joana D’arc", que bem caracterizava o lado humorístico e sarcástico da banda.

Marcelo Nova, o grande mentor e líder, costumava dizer que o texto do Camisa era debochado, cínico e escroto e que em geral a banda era um mata-borrão sonoro com textos que fugiam a realidade musical na época Marcelo Nova era o motor do Camisa, mas cada um dos componentes tinha autonomia no seu instrumento. Marcelo compunha junto com Karl ou Gustavo, que ajudavam a dar a forma musical às idéias do Marcelo, junto com Robério e Aldo Pereira.

O sucesso parecia inevitável, já que a banda alcançava grandes vendas e o público lotava cada vez mais as casas de shows, mas ocorre uma não aceitação da mídia em geral que estava acostumada a trabalhar apenas com músicas de grande apelo comercial.

Em 1985 é lançado "EP Remix", um mix promocional. Em 86, quando o rock nacional estava no seu auge, o Camisa fortalece sua postura lançando o que seria o primeiro disco ao vivo de uma banda nacional. Intitulado de "Viva", suas características ficam por conta de ter incluído problemas técnicos e tudo o que continha num show, já que não foi submetido a nenhum tipo de censura. Neste disco foi apresentado o grande sucesso "Silvia", música que, segundo o próprio Marcelo, era uma brincadeira de ensaio que eles acabaram levando pro show e na mesma hora o público criou o coro: 'piranha'.

Esse disco mostrava também que a banda continuava fiel ao seu público, não se deixando levar por modismos e tendências.

Mesmo desamparados pela mídia, porque a banda estava dando um pontapé na canela de um esquema que não estava acostumado a levar nenhum beliscão, continuavam levando cada vez mais pessoas para os shows.

O primeiro contato com Raul Seixas acontece nessa época, quando certa vez, o Camisa estava tocando no Circo Voador e Raul foi ver. Marcelo, que conhecia Raul apenas de alguns shows que tinha ido assistir na época de Raul e Seus Panteras, o chamou para o palco e eles tocaram, na base do improviso, um medley de rock ‘n roll misturando "Long Tall Sally" com "Be-Bop-A-Lu-La" e "Tutti Frutti". Marcelo ficou tão emocionado que não conseguia cantar nada, ficou só olhando.

Outros dois grandes sucessos da banda "Só o fim" e "Simca Chambord" , vem juntos com o quarto disco: "Correndo o Risco". A música "Simca Chambord" junta fragmentos dos anos 60, falando dos jipes e tanques que acabaram com toda a classe média.

A polêmica faixa "A Ferro e Fogo" que é tocada por uma orquestra, causou grande alarme na mídia, pois rotulavam o Camisa como uma autêntica banda punk baiana. Ainda neste disco está a música Ouro de tolo, que foi a primeira música de Raul Seixas gravada por Marcelo Nova.

Em 1987 sai o quinto trabalho da banda, o disco Duplo Sentido, sendo assim este o último com a formação original. Neste álbum esta contida a música "Muita Estrela, Pouca Constelação", era o primeira parceria entre Marcelo Nova e Raul Seixas.

Com os sucessos radiofônicos de clássicos como Lena, Hoje, Eu Não Matei Joana Darc, Rosto e Aeroportos, Rotina, Só o fim, Simca Chambord, Deus Me De Grana, Muita Estrela Pouca Constelação e Canalha, a banda continuava a todo vapor e o impacto causado por eles em Salvador nos anos 80 só tinha paralelo aquele proporcionado por Raulzito e seus Panteras nos anos 60. O que mudou foi apenas o modo de expressão, já que o som era muito parecido.

Já bastante envolvido em novos projetos com Raul, inclusive do disco Panela do Diabo que seria lançado em 1989, Marceleza, como costumava ser chamado por Raul, deixa a banda e ai se dá o fim do Camisa de Vênus.

Anos mais tarde, mais precisamente em 1995, Karl Hummel após ver na TV um comentarista dizer que o "Skank era a nova sensação do Rock nacional", toma a iniciativa e liga para Marcelo dizendo que estava na hora do Camisinha voltar.

Com uma formação diferente, já que Gustavo Mullen tinha projetos de tocar com Jonh Paul Jones, a banda volta inicialmente fazendo apenas shows esporádicos pelo Brasil afora, e depois de constatar que o público continuava fiel, perceberam que já era hora de lançar um novo disco e nesse mesmo ano é gravado ao vivo no Aeroanta em São Paulo, o álbum Plugado.

Neste disco estão antigos grandes sucessos aliados a algumas novas canções, como por exemplo "Cidade Bunda" e pela primeira vez em disco a faixa "Bota pra Fudê", que era mais uma das criações do público.

No final do ano seguinte, em 1996, com Marcelo Nova nos vocais, Karl Hummel na guitarra, Robério Santana no baixo, Luiz Sérgio Carlini na outra guitarra, Franklin Paolilli na bateria e, no piano Carlos Alberto Calazans, surge o que seria em definitivo (será??) o último trabalho do Camisa de Venus, o disco "Quem é Você?".

Com participação especial dos Raimundos e na faixa "Don’t Let Be Me Misunderstood" Eric Burdon divide os vocais com Marcelo Nova.

Esta é a história de uma autêntica banda de rock nacional. Uma banda que nunca teve e não tem o reconhecimento merecido pela mídia. Eles lutaram contra o conformismo, sempre mostrando sua postura crítica perante a política e a sociedade.

Um rock ‘n roll puro que mistura elementos da sonoridade de Little Richards e Chuck Berry com rock inglês dos anos 70. Um som contagiante, alegre, bem humorado e ao mesmo tempo crítico e a possibilidade da banda voltar um dia ainda não foi descartada por Marcelo Nova, que segundo suas próprias declarações, eles podem apenas estar dando um tempo.

Camisa de Venus é discoteca básica, essencial, um som sem lubrificante como no rock fuleiro que se pratica hoje. São Paulo já sabia. Mas o resto do Brasil só foi aprender a pegar mesmo com Meu Primo Zé, Bete Morreu e outras obras primas do disco de estréia do grupo de Marcelo Nova. Este é, no mínimo, o melhor punk rock já feito neste país.

Após o retorno na metade da década de 90, o Camisa encerrou suas atividades novamente. Depois disso, houve um espaço de oito anos até a reunião seguinte da banda, que aconteceu em 2004, quando Marcelo & Cia tocaram no Festival de Verão em Salvador, em comemoração aos 20 anos do Camisa. Este show foi registrado pela Som Livre, que lançou um DVD com a apresentação do grupo, além de uma entrevista de 30 minutos com Marcelo Nova. Depois, a banda ainda se apresentou em São Paulo (junto com o Ira!) e em Porto Alegre, para comemorar os 20 anos do show antológico que fizeram por lá, quando estavam começando a estourar no Brasil.

Resumo:

Com quase duas décadas de estrada, a veterana Camisa de Vênus é, sem dúvida, uma das mais importantes e respeitadas bandas do Brasil. A história toda começou em Salvador, no início dos anos 80, quando Marcelo Nova (vocal), Robério Santana (guitarra), Karl Franz Hummel (baixo) e Gustavo Adolpho Souza Mullen (bateria), fizeram as primeiras apresentações. Aldo Pereira Machado assumiu as baquetas e Gustavo Mullen passou a ser o segundo guitarrista do grupo.

O primeiro compacto, de 1982, trazia apenas duas músicas - “Controle Total” e “Meu Primo Zé” -, mas que já deixavam explícitas as influências setentistas e dos precursores do rock, como Chuck Berry.

O álbum de estréia, batizado com o nome da banda, causou certa polêmica na época do lançamento, em 1983. Os sarcasmos e termos pouco convencionais, no mínimo, despertaram a curiosidade da mídia. Sem perder tempo, lançaram no ano seguinte o segundo trabalho, “Batalhões de Estranhos”, que trouxe dois dos maiores ‘hits’ de toda a carreira: “Beth Morreu” e “Eu Não Matei Joana D’arc”.

Sempre à frente do que acontecia no País, lançaram em 1986 o que seria o primeiro disco ao vivo de uma banda de rock no Brasil, intitulado “Viva”. Sem nenhum tipo de edição ou ‘overdubs’, o álbum é praticamente o registro de um show do Camisa, na íntegra.

No mesmo ano, o inédito “Correndo o Risco” chegou às lojas e obteve muita repercussão. Os destaques dessa vez foram “Só o Fim”, “Simca Chambord”, “Silvia” e “A Ferro e Fogo”, com a participação de uma orquestra, algo totalmente inusitado até então.

Em 1987, Raul Seixas, que já havia feito algumas ‘jams’ com a banda, consolidou a parceria com Marcelo Nova, compondo juntos a clássica “Muita Estrela, Pouca Constelação”, do disco “Duplo Sentido”, em que fizeram um panorama geral do cenário musical da época.

Marcelo Nova preferiu dar continuidade aos seus projetos com Raul. Após anunciar sua saída do Camisa, os outros integrantes resolveram encerrar suas atividades. Somente em 1995, decidiram que era hora de voltar. Apesar da formação não ser mais a mesma, saíram tocando pelo Brasil afora para sentir como seria a reação do público. Os fãs não decepcionaram e a receptividade foi tamanha que eles lançaram mais um ao vivo, batizado de “Plugado”, no mesmo ano.

Nesse meio tempo em que ficaram fora de cena, a gravadora ainda soltou duas coletâneas no mercado: “Liberou Geral” em 1988 e “Bota pra Fudê”, em 1990. O inédito “Quem é Você” chegou em 1996 com o seguinte ‘line-up’: Marcelo Nova, Karl Hummel , Robério Santana, Luiz Carlini, Franklin Paolilli e Carlos Alberto Calazans.

Apesar de ter sido bem recebido pela crítica, parece que esse foi mesmo o disco de despedida do Camisa, uma banda que conseguiu protestar e fazer críticas, usando bom humor e ironia e que, mesmo tendo várias faixas tocando sem parar nas rádios, manteve postura e ideais intactos.

O vocalista Marcelo Nova continua investindo em sua carreira solo e gravando álbuns regularmente e se reúne, eventualmente, com o Camisa de Vênus para shows.

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