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Abcdário Musical

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Heitor Villa-Lobos ( Vila-Lobos) ♫♫♫♫♫♫♫♫♫♫




Biografia Heitor Villa-Lobos




Considerado uma das figuras mais importantes da história da música no Brasil, aprendeu a tocar violoncelo aos seis anos de idade com o pai, músico amador. Foi também nessa época que conheceu a obra de Bach, que tanto o influenciaria no futuro.


Heitor Villa-Lobos(Rio de Janeiro, 5 de março de 1887 — Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1959) foi um compositor brasileiro, célebre por unir música com sons naturais.
Aprendeu as primeiras lições de música com o pai, Raul Villa-Lobos, funcionário da Biblioteca Nacional, que morreu em 1899. Ele lhe ensinara a tocar violoncelo usando improvisadamente uma viola, devido ao tamanho de "Tuhu" (apelido de origem indígena que Villa-Lobos tinha na infância). Sozinho, aprendeu violão na adolescência, em meio às rodas de choro cariocas, às quais prestou tributo em sua série de obras mais importantes: os Choros, escritos na década de 1920. Casou-se em 1913 com a pianista Lucília Guimarães.

Após viagens pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, no final da década de 1910, ingressou no Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro, mas não chegou a concluir o curso, devido à desadaptação - e descontentamento - com o ensino acadêmico.

Suas primeiras peças tiveram alguma influência de Puccini e Wagner, mas a de Stravinsky foi mais decisiva, como se vê nos balés Amazonas e Uirapuru (ambos de 1917). Apesar de suas obras terem aspectos da escrita européia, Villa-Lobos sempre fundia suas obras com aspectos da música realizada no Brasil. Utilizava sons da mata, de eventos indígenas, africanos, cantigas, choros, sambas e outros gêneros muito utilizados no país. O meio acadêmico desprezava o que escrevia, até que uma turnê do pianista polonês Arthur Rubinstein pela América do Sul, em 1918, proporcionou uma amizade sólida, que abriria as portas para a mudança de Villa-Lobos para Paris, em 1923.

Na Semana de Arte Moderna, em 1922, ficou famoso um episódio em que o compositor é chamado ao palco e entra com um dos pés calçado de sapato e o outro de sandália, com uma atadura chamativa no dedão. Interpretada como uma atitude de vanguardismo provocativo, Villa-Lobos é vaiado; depois viria a explicar que o ferimento era verdadeiro, demonstrando sua ingenuidade ante as reações ardorosas despertadas pelo evento.

Passou duas longas temporadas na França, o maior reduto musical da época, através da ajuda financeira da família Guinle. Residiu em Paris entre 1923 e 1924, e de 1926 a 1930, quando voltou ao Brasil para participar de um programa de educação musical do governo de Getúlio Vargas. Nesse tempo, a influência de Stravinsky foi sobrepujada pela da música brasileira, seja a indígena, seja a dos chorões. Essas duas vertentes são bastante marcantes nos catorze Choros. Os temas nordestinos viriam a se fazer mais presentes na década de 1930, ao lado da inspiração reencontrada em Bach.

O ano de 1930 deu novo rumo à vida do compositor, pois conseguiu concretizar seu projeto de introduzir a disciplina Canto Orfeônico (coral) nas escolas de ensino médio de todo o país, por intermédio da confiança depositada pelo interventor do Estado de São Paulo, João Alberto, aliado de Getúlio Vargas. Foi professor catedrádico de Canto Orfeônico do Colégio Pedro II,no Rio de Janeiro.

Desse projeto, destacaram-se os concertos ao ar livre com a participação de milhares de alunos. Um desses concertos, no estádio São Januário, contou com quarenta mil vozes e a presença do presidente Getúlio Vargas. Em 1936, pediu separação de sua primeira esposa e se uniu com Arminda d'Almeida Neves, a "Mindinha", com quem viveu até a morte.

Na década de 1940, Villa-Lobos conheceu os Estados Unidos. Teve ótima aceitação de suas obras e a definitiva aclamação. Diversas orquestras estado-unidenses lhe encomendaram novas composições, bem como de instrumentistas renomados que lá moravam ou se apresentavam. Se na metade de sua vida, seu eixo fora Rio-Paris, agora passava a ser Rio-Nova Iorque. Mesmo com o sucesso, nunca foi rico; também não teve filhos. Em 1947, em Nova Iorque, sofreu a primeira intervenção cirúrgica para tratar do problema que iria tirar-lhe a vida doze anos mais tarde, pouco mencionado em suas biografias: o câncer de bexiga, causado por seu vício em charutos. Recuperou-se e ganhou mais vigor para compor.

Na sua última década de vida surgiram as cinco últimas sinfonias, os seis últimos quartetos de cordas, quase todos os concertos (exceto o primeiro para piano e o primeiro para violoncelo), sua ópera Yerma, a suíte A Floresta do Amazonas e diversas obras de câmara, como a Fantasia Concertante para Violoncelos (1958) e o Quinteto Instrumental, para flauta, violino, viola, violoncelo e harpa (1957). Em nova viagem a Paris, em 1955, gravou algumas de suas obras mais importantes, regendo a ORTF (Orquestra da Rádio-Teledifusão Francesa), mais de sete horas de música, remasterizadas na década de 1990, e atualmente disponíveis em CD. Em 1959, regeu sua última gravação, à frente da Symphony of the Air, justamente A Floresta do Amazonas, e voltou para o Rio de Janeiro, onde veio a falecer poucos meses depois, em sua casa.

Villa-Lobos se incomodava muito com o título de compositor brasileiro. Ele sempre fazia questão de dizer que era compositor do mundo, afinal ninguém fala de outros compositores como Mozart, Bach, etc., dizendo que são de determinados países.

Entre os títulos mais importantes que recebeu, está o de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova Iorque; foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Música e regeu onze orquestras brasileiras e quase setenta na Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Israel, Itália, México, Portugal, Suíça, Uruguai e Venezuela.

A música de Villa-Lobos é, sobretudo, sui generis: o compositor nunca chegou a possuir um estilo definido. Se tanto, é possível encontrar preferências por alguns recursos estilísticos: combinações inusitadas de instrumentos (que muitas vezes prejudicaram a expressividade da música), arcadas bem puxadas nas cordas, uso de percussão popular, imitação de cantos de pássaros (recurso no qual era mestre, só tendo um único concorrente: o francês Olivier Messiaen; ambos nunca se conheceram).

Não defendeu nem se enquadrou em nenhum movimento, e continuou por muito tempo desconhecido do público no Brasil e atacado impiedosamente pelos críticos, dentre os quais Oscar Guanabarino, seu eterno opositor. Ainda assim, sempre foi fiel a seu próprio impulso interior para compor: "Minha música é natural, como uma cachoeira", disse certa vez. Essa obediência a seu instinto o tornou o mais prolífico compositor erudito do século XX; somente alguns barrocos, como Telemann, possuem mais obras do que Villa-Lobos.

Esse instinto pela natureza mesma da palavra não era disciplinado, e essa indisciplina se manifestou muitas vezes numa harmonia (uso de acordes) excessivamente livre, quando fazia uma peça deliberadamente tonal, e numa orquestração inadequada - sua vida desprogramada, às vezes tendo de se render às necessidades do dia-a-dia, colaborou para que diversas obras ficassem sem um melhor acabamento.

Villa-Lobos, porém, sempre se recusou a fazer revisões, aceitava seus "monstros", como ele chamava os rascunhos que rabiscava em guardanapos, e nunca usou a palavra "acabamento": não se concentrava numa obra só e logo passava às idéias novas que lhe surgiam, na sala de sua casa, num navio ou num trem. Por outro lado, é possível encontrar composições onde recorreu a melodias já usadas antes, tal qual em Magdalena.

Esses problemas, todavia, não estão presentes em três de suas peças mais conhecidas. O Trenzinho do Caipira é uma magistral amostra de uso dos instrumentos de uma orquestra imitando o som de um trem. A Cantilena das Bachianas n° 5, originalíssima em sua instrumentação, possui um contraponto simples, mas muito correto. A Introdução das Bachianas n° 4 - matéria-prima do Samba em Prelúdio, de Baden Powell e Vinícius de Morais - apresenta progressões harmônicas bem trabalhadas e que casam perfeitamente com o clímax romântico do meio do movimento.

"Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta." — Villa-Lobos

Obras

Bachianas
O ciclo de obras mais conhecido de Villa-Lobos é o das nove Bachianas Brasileiras, escritas entre 1930 e 1945, onde o compositor intencionou construir uma versão nacional dos Concertos de Brandemburgo, usando ritmos ou formas musicais de várias regiões do Brasil. Essa intenção é clara nas Bachianas n.º 1, para conjunto de violoncelos, dividida em três movimentos: Introdução (Embolada), Prelúdio (Modinha) e Fuga (Conversa).

Todos os movimentos das Bachianas, inclusive, receberam dois títulos: um bachiano, outro brasileiro. São trechos famosos de Bachianas a Tocata (O Trenzinho do Caipira), quarto movimento das Bachianas n.º 2; a Ária (Cantilena), que abre as de n.º 5; o Coral (O Canto do Sertão) e a Dança (Miudinho), ambos nas Bachianas n.º 4.

A instrumentação adotada nas Bachianas Brasileiras foi a seguinte:

n.° 1 - orquestra de violoncelos (1932);
n.° 2 - orquestra de câmara (1933);
n.° 3 - piano e orquestra (1934);
n.° 4 - piano solo (1930-1940) (depois orquestrada, em 1942);
n.° 5 - soprano e orquestra de violoncelos (1938);
n.° 6 - flauta e fagote (1938);
n.° 7 - orquestra completa (1942);
n.° 8 - orquestra completa (1944) (a única com instrumentação já utilizada);
n.° 9 - orquestra de cordas ou coro misto (1945) (a única com versão alternativa).

Choros

Outra série de obras é a dos Choros, escritos entre 1920 e 1929, que vão desde o número um, para violão solo, até o décimo quarto, para orquestra, banda sinfônica e coro, cuja partitura foi perdida (bem como foi a dos volumosos Choros n.º 13, para duas orquestras e banda). A Introdução aos Choros e os Choros Bis (que são uma única peça) não são numerados como os outros catorze, sendo classificados extra-série.

O de número dez é o mais aclamado de todos; escrito para coro e orquestra, culmina num grande "samba-enredo sinfônico", contrapondo a melodia da canção Rasga o Coração, de Anacleto de Medeiros (gravada na época por Vicente Celestino) a um acompanhamento coral bem ritmado de onomatopéias supostamente indígenas (mas inventadas por Villa-Lobos) e a uma bateria marcada revezadamente por ganzá, tamborim, reco-reco, cuíca e similares de escola de samba.


Instrumentos musicais típicos do choro brasileiro: violão de 7 cordas, violão, bandolim, flauta, cavaquinho e pandeiro.Esta é a instrumentação utilizada nos Choros:

Introdução aos Choros - violão e orquestra (1929)

n.° 1 - violão solo (1920)
n.° 2 - flauta e clarineta (depois transcrita para piano) (1924)
n.° 3 - coro masculino e septeto de sopros (Picapau) (1925)
n.° 4 - três trompas e trombone (1926)
n.° 5 - piano solo (Alma Brasileira) (1925)
n.° 6 - orquestra completa (1926)
n.° 7 - septeto (sopros e cordas) (Settimino) (1924)
n.° 8 - orquestra, incluindo dois pianos (1925)
n.° 9 - orquestra (1929)
n.° 10 - coro e orquestra (Rasga o Coração) (1926)
n.° 11 - piano e orquestra (1928)
n.° 12 - orquestra (1925)
n.° 13 - duas orquestras e banda sinfônica (1929)
n.° 14 - orquestra, banda sinfônica e coro (1928)
Choros Bis - violino e violoncelo (1928/1929).
Ao contrário das Bachianas, suites de dois a quatro movimentos, os Choros são peças de movimento único (à exceção do Choros n.º 11, para piano e orquestra, em três movimentos, mas tocados sem interrupção) e duração que varia desde 2'30" (N° 2) até pouco mais de 60 minutos (N° 11).

Sinfonias e concertos

As doze sinfonias de Villa-Lobos foram escritas ao longo de sua carreira e são consideradas obras sem consistência orquestral, à exceção da n.º 10 (Sumé Pater Patrium, em cinco movimentos, sobre poemas do catequizador jesuíta espanhol José de Anchieta, escrita para o quarto centenário da cidade de São Paulo).

Já entre os seus concertos, um foi definitivamente integrado ao repertório internacional do instrumento: o para violão. Foi encomendado pelo maior virtuose do instrumento e a ele dedicado: o espanhol Andrés Segovia. Outro concerto, o para harpa, ganha dedicatória de outro espanhol ilustre: Nicanor Zabaleta, grande expoente de seu instrumento.

As outras obras do gênero foram compostas para piano (cinco), violoncelo (dois) e um raríssimo para gaita de boca, além de um Grosso - para flauta, clarineta, oboé e fagote, de 1959.


Óperas e coral

As óperas de Villa-Lobos não chegaram a conquistar o público. Num total de sete -Aglaia (1909), Comédia Lírica (1911, partitura perdida); Elisa (1919); Izath (1912-1914); Jesus (1918) e Malazarte (1924, perdida) e Yerma (1955-1956), baseada na peça de teatro homônima de Frederico Garcia Lorca -, somente esta última é ainda lembrada.

Magdalena (1947) é chamada de aventura musical em dois atos, e foi uma encomenda do empresário Edwin Lester, da Los Angeles Civic Light Opera ao compositor, para que ele (a exemplo do que já fora feito por terceiros com a obra de Borodin para o musical "Kismet"), compusesse um musical baseado em obras de sua autoria. Villa-Lobos não só se utilizou de temas originais, como rearranjou temas folclóricos por ele já utilizados em sua produção.

Seus dezessete quartetos de corda estão entre os mais bem inventivos e bem construídos do século XX, provas do domínio da forma de composição e dos recursos dos instrumentos.

O violão era o instrumento preferido do compositor (ao lado do violoncelo - que aprendera na infância e lhe dera algum sustento na juventude). Tal era seu domínio sobre ele, que os "5 Prelúdios", os "12 Estudos", a Suíte Popular Brasileira e o Choros n° 1 tornaram-se peças obrigatórias do repertório violonístico clássico mundial.

De um repertório de mais de mil composições, escritas ao longo de sessenta anos, as peças para piano constituem boa parte dele. A primeira mulher de Villa-Lobos era pianista, e a amizade com o polonês Arthur Rubinstein o impulsionaram a escrever bastante para o instrumento. Daí surgiram criações tais como o Rudepoema (peça livre, com duração de mais de vinte minutos), o dificílimo Ciclo Brasileiro, o Choros n.º 5 (chamados de Alma Brasileira) e o didático Guia Prático, baseado em canções de roda infantis.

Os concertos para piano não tiveram tanto sucesso quanto as [praticamente consideradas fantasias concertantes que escreveu para o instrumento. O Momoprecoce, as Bachianas n.º 3 e os Choros n° 11 são os mais significativos exemplos.

Da obra coral-sinfônica, convém destacar os arrojados Noneto (1923) e Mandu-Çarará (1940) e a épica Invocação em Defesa da Pátria (1943), sobre poesia de Manuel Bandeira, para soprano, coro e orquestra - nomeada "canto cívico-religioso".

Peças para o cinema

Das obras para cinema, destacam-se as quatro suites de O Descobrimento do Brasil (1937), desenvolvidas a partir da trilha sonora para o filme de mesmo nome de Humberto Mauro, e a suite A Floresta do Amazonas (1959), também baseada numa trilha escrita originalmente para filme (Green Mansions, da MGM). Esta foi uma das últimas obras de Villa-Lobos, da qual regeu a primeira gravação e que contou com o retorno de Bidu Sayão aos estúdios, excepcionalmente em consideração ao compositor.

Representações na cultura

Villa-Lobos já foi retratado como personagem no cinema e na televisão:

1979 - Bachianas Brasileiras: Meu Nome É Villa-Lobos, interpretado por Rildo Gonçalves.
1995 - O Mandarim, por Raphael Rabello.
1999 - "Villa-Lobos e a Apoteose Brasileira", enredo da escola de samba do Rio de Janeiro Mocidade Independente de Padre Miguel. Considerada uma das maiores escola da época a Mocidade contou a história de Villa-Lobos em um enredo de criação do carnavalesco Renato Lage. Ao final do desfile a escola ouviu os gritos de "é campeã".
2000 - Villa-Lobos - Uma Vida de Paixão, por Marcos Palmeira e Antônio Fagundes.
Teve sua efígie impressa nas notas de quinhentos cruzados, de 1986.
Em 2006, o prefeito César Maia decretou que em 5 de Março, uma lei que no aniversário de Villa-Lobos de 119 anos, seria dia da música clássica na cidade do Rio de Janeiro, em homenagem ao patrôno da Música Clássica no Brasil.
Em 2007, no ano seguinte o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral sancionou uma lei de autoria do deputado Alessandro Molon que em todo o estado do Rio de Janeiro o dia 5 de março seria dia da Música Clássica, desde então, esse dia fazem várias apresentações de música clássica e de Villa-Lobos.

O poeta Carlos Drummond de Andrade lembra comovido: "Quem o viu um dia comandando o coro de 40 000 mil vozes adolescentes, no estádio do Vasco da Gama, não pode esquecê-lo nunca. Era a fúria organizando-se em ritmo, tornando-se melodia e criando a comunhão mais generosa, ardente e purificadora que seria possível conceber".

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